9, janeiro, 2015

Mattu Macêdo: uma vida dedicada à gastronomia cearense

Portal Sabores entrevistou a chef Mattu Macêdo, criadora da primeira escola de culinária do Ceará e dona de um consultoria de alimentação  

Mattu Macêdo declara em entrevista seu amor pelo trabalho na cozinha (Foto: Divulgação)
Chef Mattu Macêdo declara em entrevista seu amor pelo trabalho na cozinha (Foto: Divulgação)

Matusaila de Aragão Macêdo, ou simplesmente Mattu Macêdo, é muitas facetas de uma mulher só. A apresentadora de programa na TV, a professora, a chef de cozinha e a dona de casa são apenas pequenas amostras de uma eterna apaixonada pelo prazer de cozinhar e de encantar os outros com o que faz em cada prato. Foi graças às panelas que se fez gente e, não por acaso, diz ter “nascido para cozinhar”. A mulher que fundou a primeira escola de culinária do Ceará conversou com o Portal Sabores, contou um pouco de sua história e fez uma avaliação do cenário gastronômico no estado. Confira:

Portal Sabores – Mattu, a senhora é professora de gastronomia, foi apresentadora de programa de culinária na TV, é consultora na área de alimentação… Enfim, construiu sua vida profissional tendo a gastronomia como foco. Quando surgiu o interesse pela área? 

Matusaila Macedo – Na realidade eu já nasci com interesse na área. Nasci em uma pequena cidade do interior do Ceará  – Macaraú, distrito de Santa Quitéria  – em uma família de 8 irmãos, sendo eu a sétima. Minha mãe era quituteira na época. Na época, não existia este nome, então ela era boleira. Fazia bolos, alfinis, puxa-puxa, produtos que ela podia vender rápido, pois eram muitas bocas para alimentar. Meu pai trabalhava como caminhoneiro, então pouco ficava em casa. Quando nasci, minha mãe ficou muito doente, então fui criada por uma tia que nada sabia de cozinha, mas fui estudar em um colégio das Feiras Josefinas na cidade de Araras, hoje Varjota. Desde cedo mostrei interesse pela cozinha. Quando vim morar em Fortaleza para estudar não perdia um curso de culinária nos supermercados, pois estudante  – sabe como é, né? Sem grana. Aos 19 anos, passei em um concurso para os Correios e para a Faculdade de Filosofia. Mesmo assim, depois que chegava da faculdade, fazia bolos e os lanches para vender na faculdade. Com um ano de Correios pedi demissão. Eu queria era a cozinha! Fiz curso de panificação no Senai, vários cursos particulares. Daí, surgiu a oportunidade de ir para Ilinois– USA em 1990 fazer o curso de confeitaria artística na Wilton School. Fui e quando voltei comecei a fazer encomendas, montei uma lanchonete com uma amiga e um buffet ambulante. Depois, devido a procura pelos pratos preparados por mim, as pessoas pediam as receitas e comecei – meio sem programar – a ensinar. Abri a primeira escola de culinária do Ceará. Com isso veio o convite para a TV em 1992, e também para o Rádio – a AM do Povo no programa do Carlos Augusto, onde fiquei dois anos. Durante todo esse período fui me aperfeiçoando em curso, fui para várias feiras internacionais na França, Alemanha, Lisboa e sempre fazendo treinamento, como também idas a São Paulo, e às feiras Nacionais. Em 2000, ganhei um concurso de Chocolate em Óbidos Portugal, o prêmio foi um treinamento de Panificação e Confeitaria na Escola Alimentaria da Baixinha. Fiz a Faculdade de Economia Doméstica na Universidade Federal do Ceará, fui Coordenadora do Curso de Gastronomia do Centro Dragão do Mar – na época um projeto piloto – e sempre procurando me especializar com cursos e treinamento.

PS – A senhora é professora de gastronomia. Como está sendo a experiência de atuar como docente nesta área? É diferente de apresentar um programa de TV ou prestar consultoria em alimentação para empresas. A senhora está formando profissionais nessa área. Como tem encarado isso?

MM – A TV para mim não era tão diferente da sala de aula, pois acredito que quem estava do outro lado queria aprender para replicar em casa, então passava sempre com pormenores para que nada desse errado, por isso o programa deu tão certo durante 22 anos e 8 meses. Hoje na sala de aula tenho que ser mais exigente com o conhecimento técnico dos futuros profissionais do mercado, pois além da receita eles têm de conhecer o que a envolve –como quem vai degustar, o tipo de público, sua cultura, suas técnicas gastronômicas, para eu poder passar toda minha experiência não só de cozinha, mas de vivencia com o comensal ou com o empresário do ramo. É um trabalho muito gratificante.

PS – Durante mais de 20 anos a senhora esteve à frente do programa Nossa Cozinha, na TV aberta cearense. Como foi trabalhar com esse tipo de empreendimento? Como era o trabalho lá?

MM – Foi muito gratificante em todos os sentidos. Aprendi muito sobre TV, estar do lado de dentro da TV. Portando, ao preparar o programa sempre me questionava o que eu como telespectadora gostaria de ver, o gral de facilidade das receitas, dos ingredientes, do preparo… Essa era a minha maior preocupação – a ponte de perder o sono algumas vezes. Depois o vínculo ficou tão forte com os telespectadores que eles mesmo já faziam as suas sugestões e enviavam as dúvidas. Nunca esqueci de uma senhora que veio falar comigo para me dizer que a irmão dela aprendeu a ler e escrever só para anotar minhas receitas e, com isso, havia aberto uma lanchonete em casa. Era assim que ela e o esposo sustentavam a casa. Acho que foi um dos depoimentos mais marcantes e gratificantes dentre muitos que ouvi.

PS – Hoje, a senhora também é dona de uma empresa de consultoria gastronômica. Como funciona isso? Por que investir em uma empresa nessa área?

MM – Uma empresa de consultoria de alimentos existe para auxiliar pessoas que querem colocar um negócio do ramo ou apontar as falhas que não a deixam algumas vezes deslanchar. Costumo dizer que é como sua casa. Você todo dia entra e muitas vezes nem percebe que o quadro está torto, porque seu olho já está viciado. Até chegar uma amiga, perceber e te avisar que o quadro está torto. Assim é em um serviço de Alimentação. Muitos empreendedores montam um negócio com a família e amigos. Chega um e diz – você cozinha muito bem. Por que não coloca um negócio? – ai ele se empolga, o cardápio é feito com produtos que ele gosta, mas não lembra que quem vai sustentar o negócio não vai ser só a família e os amigos, são também os clientes que ele vai conquistar, por isso o estudo do ponto, do futuro cliente, do ambiente, do cardápio… Tudo isso tem que ser discutido com pessoas do ramo. É aí que entra a figura do consultor.

PS – Como alguém que atua na área, de que forma a senhora avalia o cenário da gastronomia em Fortaleza e no Ceará de modo geral?

MM – O cenário de Fortaleza é muito promissor para essa profissão, pois a cidade cada dia se destaca no turismo, na hospitalidade. A grande questão que vejo hoje é o glamour que se criou entorno da profissão. Muitos não querem ir para a prática, para a cozinha, ralar, lavar, cozinhar… Não existe um grande chef que não vá para a cozinha. Não tem outra formação que não seja a cozinha. O glamour, isso vai ser uma consequência do reconhecimento de seu esforço.  Hoje, não é difícil encontrarmos profissionais de outros estados em nossos restaurantes, mas por quê? É bom fazer uma avaliação disso.

PS – Qual o lugar que a gastronomia ocupa em sua vida e qual o significado dela para você?

MM – A gastronomia hoje ocupa minhas 24 horas do dia, minha vida. Quando estou em casa cozinho para os meus familiares – que são os mais críticos – e quando estou na rua presto atenção a tudo que envolve comida. Gosto de observar as áreas de alimentação do shopping, ver como as pessoas de comportam diante da comida, nas festas, a alegria dos olhos brilhando diante de uma linda mesa de doces… Enfim, amo comer e alimentar as pessoas.

PS – Que mensagem a senhora deixaria para quem está começando agora no meio? 

MM – Perseverança, estudo, amor, paixão por gente, pois lidamos com o maior prazer do ser humano que é estar em uma mesa com boa comida.  No entanto, não é fácil. São longas horas em pé. Mas o prazer de ver os olhos brilhando e um sorriso no rosto apaga qualquer cansaço físico.

Serviço
Mattu Macêdo Consultoria
Rua Silva Paulet, 2811 – Dionísio Torres
Fone: (85) 3493.2742 – (85) 3241.0285
c[email protected]